Escrevi isto em Junho de 2006, creio que num blog que apaguei: «Já vivi numa aldeola que tinha como único ornamento uma igreja sem estilo, uma árvore frondosa que a ladeava, daquelas centenárias, cujas raízes parecem querer arrancar as entranhas da terra e que me lembre nada mais. Junto a essa árvore havia um banco, daqueles vulgares bancos de jardim, a armação em ferro, o assento e o encosto em madeira. Caberiam nele uns três, bem anichados. Ao domingo, lembro-me de o ver ali sentado. Vestia-se a rigor, o fato completo, camisa branca, uma gravata de cuidado nó. Ficava por ali um tempo, o tempo necessário para estar sozinho. Cismava nunca soube em quê. Mais tarde disseram-me que era um militar reformado. A sua guerra, a última batalha que travava, agora era consigo próprio. Eu vivia ao lado do cemitério, ele hoje deve viver por lá, graças ao armísticio com que os deuses da guerra se apiedam daqueles que, na batalha da vida, não sabem vencer e já não têem que perder». A aldeia chamava-se Abravezes, a seguir a Viseu, resta a árvore, a igreja e eu lembrar-me.