Procurava, trémula, errática, a minha mão, para que lha segurasse, à sua mão. Ali estávamos, o cerimonial íntimo do silêncio, a forma muda de nos absolvermos de todo o tempo perdido, da vida que não vivemos, do coração ressequido pelo veneno dos ressentimentos e do que sofremos juntos sem sabermos sofrer sem ser sozinhos.
E o medo, um medo não admitido e vestido com cores de esperança, a língua do oxalá e tantas as formas há de o dizer, esperando um milagre que traga da vida ao menos um vestígio balbuciante.
Os olhos perdidos num horizonte invisível, como se fixados num Ser que a esperasse, já ao mar indiferente e ao próprio sol, a litania da dor, que o corpo desfaz-se para que outra vida surja daquela vida que me tinha dado a vida. E eu ali, provisório, sem saber como se pronuncia com gestos a palavra Mãe.