Há um tempo real e o do calendário, o do relógio. Tendencialmente estes dois são o tempo do Cosmos, suas fracções.
A irrealidade decorre, porém, de não sabermos o ponto inicial de contagem do Universo, tanto assim o seu tempo final, menos ainda a dimensão.
A incerteza gera em tantos angústia, em muitos essa é a única transcendência.
A irrealidade decorre, porém, de não sabermos o ponto inicial de contagem do Universo, tanto assim o seu tempo final, menos ainda a dimensão.
A incerteza gera em tantos angústia, em muitos essa é a única transcendência.
A verdade do infinitamente grande é a do infinitamente pequeno: assim, cada um de nós, grão de poeira perdido no espaço, contém em si mesmo o inseguro de não saber de onde provém e para onde se destina ou se o que está é sem porquê.
Somos simples circunstância ocasional de matéria agregada, animada por um sopro de espírito, fruto do inorgânico que nos antecedeu e daquilo em que nos transformaremos.
Criatura inacabada, imperfeita, cada Homem contém em si a possibilidade da redenção da Humanidade. E, no entanto, cerca-nos o caos.
Esta madrugada somo sessenta e nove anos.
Não há tempo para balanços; no teatro de sombras que é a a existência, seria ficção, a fingir-se o intérprete autor, quando é mero personagem, fantasiando público para o seu monólogo.
Importa, sim, vir aqui dizer que, na soma lógica que faço do que experimentei, ainda há mais para viver que o já vivido. A cronologia, essa, talvez o desminta, frágeis somos, uma vil bactéria nos liquida. Mas urge ter esperança e lutar contra a adversidade.
Ser irrequieto, não me contento com o que há, mas não exijo que me dêem. Sou grato a quantos partilharam e alguns tão pouco tinham.
Tenho apenas isto a pedir: que entendam a ânsia de quem quer imenso espaço para tão diminuto tempo. Os livros que falta ler, os que ainda gostaria de escrever são, afinal, apenas particularidades do que gostaria de ser.
Às duas e vinte da madrugada na cidade de Malanje, em Angola, uma mulher deu à luz o que seria o seu único filho. Era madrugada, nesse dia 25 de Março de 1949. Conta a lenda doméstica que estivera a arrumar a casa e a pendurar cortinados até ao último momento, para que a casa ficasse em condições de receber o seu menino. Ficou-me dela esse sentido do dever, de meu pai o desejar pelo contentamento a possível felicidade. Isso me resume, tantos anos depois.